Em sua 13ª edição, a Olimpíada Nacional em História do Brasil se antecipou às comemorações do Bicentenário da Independência (2022), e convidou seus participantes a pensarem sobre esse tema. O objetivo era permitir às olímpicas e olímpicos que se preparassem de antemão ao tema, e lançar o excelente resultado final de suas reflexões no ano de 2022.
Quando dirigiu a obra “Lugares da Memória”, o historiador francês Pierre Nora preparou um dos volumes sob o título de A era da comemoração. Os capítulos discutiram, para o caso francês, comemorações como o bicentenário da Revolução Francesa (1989) ou o Maio de 1968. Nora indicou como o tempo presente cria instrumentos da comemoração, moldando-os conforme suas necessidades, para relembrar e ressignificar eventos do passado, entendidos como marcantes. Essas datas cristalizadas passam a marcar o calendário de um país e o auxiliam a construir a narrativa de sua própria história.
Sobre essa obra, o mesmo historiador apontou: “A memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulneráveis a todos os usos e manipulações, suscetível de longas latências de repentinas revitalizações”. (Pierre Nora. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. Projeto História. São Paulo (n. 10), dez. 1993, p.9.).
Assim, as datas que uma nação estabelece como comemorativas fazem parte da narrativa de identidade dessa nação, e carregam diferentes interpretações, ligadas aos usos políticos do passado. A Independência do Brasil se deu em uma data específica, ou foi um longo e irregular processo? O 7 de setembro se deu do mesmo modo para todo o território nacional? Foi um evento e decisão individualizados ou refletiam um movimento que se espalhava por toda a América Latina? Pensando em nossos dias atuais, de que modos diferentes grupos disputaram (e vão disputar) o segundo centenário de nossa Independência? E como esses questionamentos podem ser explicados para um público mais amplo?
De posse dessas reflexões, a ONHB lançou uma atividade inédita: produziu um material original e inédito sobre o tema, a série de 10 aulas gravadas, de cerca de 20 minutos cada, com historiadores especialistas de diferentes universidades do país, para a série intitulada “A ONHB e as independências do Brasil”. Cada docente convidado teve liberdade de cátedra para abordar o tema e o resultado constitui um mosaico de conhecimentos e debates muito ricos, que podem ser utilizados em sala de aula ou pelo grande público. Durante a prova, essas aulas ficaram para o acesso exclusivo dos olímpicos. Após finalizada a prova, tornaram-se disponíveis em nosso youtube. Conheça e utilize essa série, inscrevendo-se em nosso canal do youtube “Olimpíada Nacional em História do Brasil”.
Após essa formação inicial, as equipes olímpicas receberam o seguinte desafio: conceber uma exposiçãosobre o tema do bicentenário da independência. Deviam imaginar que haviam recebido, da direção de suas escolas, uma sala de aula para a exposição (quatro paredes a serem preenchidas) e uma lista dos temas a serem tratados. Para esse exercício, a ONHB ofereceu aos olímpicos uma breve introdução sobre “planejar uma exposição”.
Uma exposição tem uma lógica específica. Em primeiro lugar, porque se desenvolve em um espaço tridimensional, pelo qual as pessoas circulam; em segundo lugar, porque uma exposição de curta ou longa duração (antigamente se dizia “temporária” e “permanente”) pode reunir textos, imagens, objetos e recursos digitais; pode permitir a interatividade (tocar e interferir nos objetos) e trazer atividades de preparação (antes de fazer a visita) ou posteriores (responder questionários, deixar sua opinião, levar o catálogo para ler em casa e aprofundar as partes que mais interessam). Ela tem que ser acessível para que o maior número possível de visitantes se interesse e entenda o que está sendo apresentado.
Mais importante, a exposição é ao mesmo tempo a apresentação de um argumento, uma sugestão de percurso (o que ver antes, o que ver ao final) e a busca por oferecer ao visitante informações que ele antes não tinha ou por confrontar informações que ele já possuía e que, agora, tem que examinar sob outros ângulos. Ou seja, uma exposição tem um caráter pedagógico e de ampliação de conhecimentos e obriga seu organizador a fazer escolhas: a que dará ênfase, que imagens escolherá, como finalizará o trajeto. Nesse exercício, as equipes produziram textos, atentas à clareza da escrita e da argumentação, escolheram imagens cuja procedência tinha que ser indicada e até mesmo produziram descrições para pessoas com deficiência visual (#paracegover).
Para preencher as “paredes imaginárias” da exposição, as equipes podiam recorrer às aulas gravadas “A ONHB e as independências”, às questões da própria prova da 13ª ONHB que trataram desse tema, a seus conhecimentos sobre o assunto e utilizar livros e informações de sites. A ONHB orientou o preenchimento da exposição a partir de uma lógica clara, cronológica e adaptada à realidade de jovens de ensino fundamental e médio que, na maioria dos casos, estava concebendo uma exposição pela primeira vez. Desse modo, indicou-se:
Parede 1: a parede de quem chega à exposição tinha por tema “O processo de independência do Brasil: contexto e antecedentes”. Nessa parede, as equipes deviam apresentar as condições históricas que explicam o evento da Independência em 1822, escolhendo uma imagem argumentativa (e não apenas ilustrativa) e desenvolvendo o tema.
Parede 2: a parede seguinte tinha por função de aprofundar a reflexão, a partir do tema “O processo de independência não é um processo único”. Aqui, as equipes deveriam atentar para o fato de que a independência ocorre de diferentes modos no território nacional, com diferentes tempos e agentes, e marcada por diversos eventos políticos e sociais
Parede 3: essa parede, uma vez percorrida metade da exposição, versava sobre os contextos locais e regionais da independência, sob o tema “A independência em contexto local/regional”. O objetivo aqui, além de romper com narrativas padronizadas, é que as equipes pudessem trazer acontecimentos e personagens locais/regionais nesse processo. Nesse ponto, a ONHB pôde externar e valorizar toda a riqueza dos seus participantes de todos os estados da federação.
Por fim, a Parede 4, última parede da exposição, tinha um objetivo de reflexão e conclusão. O tema dessa parede, “As comemorações da Independência”, referia-se à construção da independência como um evento de relevância nacional, o que ocorre à sua época, em 1822; no centenário (1922) e a cada momento em que se definem imagens e textos historiográficos sobre a independência, pois a história também é construída por aqueles que a narram e explicam. O público deveria deixar a exposição com uma reflexão sobre “o que significa comemorar o bicentenário da independência em 2022”. Nessa parede, as equipes exerceram sua criatividade e espírito crítico, alinhavando temas que alcançam até os dias atuais.
O resultado desse complexo trabalho é agora trazido para a apreciação de todos. Nossa expectativa é dupla: a primeira, cumprir a função de proporcionar que o conhecimento gerado no ensino básico seja conhecido por públicos mais amplos, reafirmando que a escola é, de fato, local de produção do saber, e não de sua mera reprodução; a segunda, inspirar a que as escolas participantes ou outras escolas façam experimentos semelhantes, para a comemoração do bicentenário da independência ou mesmo de outros temas, inspirando-se nos belos trabalhos aqui apresentados.
Atenção: Cada aba traz a exposição proposta por uma equipe. Para navegar “entre as paredes”, como se se caminhasse pela exposição, é necessário clicar em “Próxima Parede” e para visualizar cada parede basta usar a barra de rolagem inferior.
Profª Drª Cristina Meneguello e Profª Drª Alessandra Pedro