Chile en Nogada: culinária e a conformação do Estado Nacional mexicano

por Ana Luiza de Oliveira Duarte Ferreira

Plano elaborado para 4 aulas

180 min

A análise d um prato considerado típico mexicanos e a história d sua criação visa despertar os alunos para nós do processo de independência e consolidação do Estado mexicano: as disputas pela estruturação de projetos políticos e identitários e a pluralidade cultural do país. O estudo do caso mexicano serve como referencial p repensar nacionalidades em outros países latinoamericanos, como o Brasil.

CURSO: Narrativas da América: discursos e dinâmicas locais

Objetivos

O objetivo desta aula é fazer com que os alunos percebam as identidades nacionais latinoamericanas como elaboradas ao longo de um processo complexo, conflituoso, violento, que envolveu questões econômicas, religiosas, técnicas, ideológicas diversas. E que a culinária mexicana, por vezes tão estereotipada, é exemplar dessa complexidade.

Mas é também objetivo essencial desta aula explorar outras dimensões do alimento, a sua concretude e a potencialidade pedagógica da degustação. **Em anexo ao "último encontro" desta aula há um texto em que apresento de forma mais sistemática bases teóricas para tal suposição.

Requisitos

Sala de aula.

Datashow, computador, reportagens impressas e recortes, cartolinas, canetinhas, lousa, cadernos de registro, livro didático (qualquer um, adotado pela escola), um mapa grande que represente a América Latina e datas de declaração da independência em cada país),

toalha de mesa, levantamento de recursos e voluntários entre os alunos para preparação do referido prato mexicano.

Avaliação

Os alunos serão avaliados: 1. pela participação nos debates propostos em sala (individual), 2. pela montagem de um cartaz sobre o tema da aula – o Chili em Nogada (grupo), 3. pelo resumo do texto do livro didático que devem realizar no caderno (individual), 4. pela participação na montagem do texto coletivo, 5. pela elaboração de um texto que contemple as problematizações que foram trabalhadas (em dupla), e 6 pelo envolvimento na preparação da aula-degustação (toda a turma).

O professor deve organizar uma planilha contendo o nome dos alunos e as atividades acima e registrar para cada uma delas: A (rica contribuição às dinâmicas), B (contribuição satisfatória) e C (não contribuiu).

Deve entregar a cada um dos alunos uma folha na qual constem esses registros (individuais), e, com base neles, os alunos deles apresentar: uma nota de 0 a 10, e uma justificativa.

Lista de atividades

Atividade oral envolvendo a classe (perguntas/respostas/debate)

20 min

Independências e nacionalismos: alimentos como referencial de identidade

Questionar os alunos a respeito do que faz de um país um espaço independente, autônomo e autêntico. Considerar que, para além dos documentos de declaram o rompimento com as metrópoles e a elaboração das constituições, nos processos de debates e lutas das independências latino-americanas grupos disputaram sobre as formas de contar essa história: selecionando e apresentando conforme seus interesses quem seriam os personagens mais importantes e os fatos mais relevantes, que pudessem (ou devessem) gerar identificação entre os habitantes do novo país.

Mas devemos ter em mente que, além da narrativa de intrépidos heróis e gloriosos embates, as independências agregam elementos culturais diversos como festas, música, jogos, vestimentas e, é claro, alimentos. Os professor deve partir de perguntas sobre alimentos típicos brasileiros e mexicanos, e apresentar aquele que será tema desta aula: o Chile en Nogada.

No final desse primeiro encontro, é importante fazer o registro de alguns conceitos trabalhados, no caderno: independência, nacionalismo e identidade. O ideal é que as definições sejam elaboradas junto com os alunos, e a forma de escrita pode variar bastante de sala para sala. Contudo, os alunos devem demonstrar que compreendem que independência se relaciona a autonomia e percepção de que se é algo típico, e distinto dos demais. Devem também demonstrar haver compreendido que nacionalismo é ao mesmo tempo um sentimento e comportamentos que são endossados por versões sobre a história de um país. E, por fim, que identidade é tudo que permite seres humanos se sentirem próximos e/ou semelhantes.



**Segue em anexo um texto de apoio, e sugestão de slides.

Outro tipo de produção (cartazes, produção de desenhos a mão livre)

25 min

O Chile em Nogada: construindo uma narrativa nossa. Os alunos devem produzir cartazes com recortes de matérias de revista e da internet sobre o Chile en Nogada. Acredito ser bem importante a questão visual: trabalhar com imagens do prato, dos personagens relacionados à história da invenção do prato, etc. (Em anexo segue um protótipo de algo que pode vir a ser criado pelos alunos.)

Eles devem compartilhar suas criações e então refletir sobre algumas questões pontuais: O prato é composto de quais ingredientes? Qual é a sua aparência e que símbolo ele representa? Qual a relação entre a apresentação desse prato e a bandeira mexicana? O que os mexicanos contam sobre a forma como ele foi criado? Há pontos em comum ou variam as versões nos materiais coletados? O enredo parece ter efetivamente base empírica? Quais fontes são citadas no material que trouxeram? Parecem confiáveis? A história do Chili em Nogada se parece mais com um mito? A que sujeitos históricos parece servir a versão corrente? Deve ficar claro para o aluno a incerteza a respeito da forma como o prato foi criado.

* Instigar os alunos: Vamos compreender um pouco mais sobre Iturbide e as mojas? Sobre a criação desse prato? Para a próxima aula, os alunos devem fazer uma leitura prévia das páginas do livro didático adotado pela escola referentes aos processos de independência na América Latina. É importante sugerir que eles grifem as palavras mais importantes do texto.

Leitura de texto em sala de aula

45 min

Os processos de independência na América Latina: é interessante trabalhar c um grande mapa no qual constem as datas de declaração das independências latino-americanas, p q todos os alunos possam visualizar juntos alguns aspectos geográficos que marcaram as movimentações q levaram ao rompimento definitivo c as metrópoles.

É importante retomar todo o tmpo os conceitos q foram registrados anteriormente nos cadernos: independência, nacionalismo e identidade. E trabalhar leitura prévia que os alunos teriam feito de passagens do livro didático.

O professor pode partir das perguntas: Como era a América Latina antes das independências? O que ocorreu em fins do século XIX? Quem o livro cita como líderes desses conflitos? Onde esses conflitos ocorreram? Quais mudanças no mapa da América Latina ocorreram? Os conflitos ocorreram de forma articulada? Que interesses tinham tais homens? A população em geral se identificava eles? Quais as consequências econômicas e sociais das independências? Como os latino-americanos passaram a se relacionar com os europeus?

Ele deve ir registrando de forma sintética na lousa, e depois perguntar: Qual a sensação que ficou, após a leitura que vocês fizeram? Como vocês se sentem a respeito dos dados históricos que acabamos de anotar? Aí então o professor deve propor que a história da América Latina tem sido construída por uma ótica depreciativa, eurocêntrica, c foco em tudo q nos “falta” em relação aos países europeus. E sem d fato aprofundar nossas questões específicas.

A ideia aqui tb é trabalhar a desconstrução de versões estereotipadas a respeito de algo (dantes alimentos considerados "nacionais", agora os processos de estruturação da nação).

Os livros serão mais ou menos atualizados. Assim, o professor terá a oportunidade de fazer correções e complementações, ou apontar aspectos positivos do texto, abordando os autores como versões históricas tb.

Os especialistas na América Latina têm destacado algumas questões como fundamentais, e o professor deve apresentar por fim aos alunos. Deve levar tais discussões à aula na forma de um texto complementar para os alunos lerem juntos, comentarem e colarem no caderno. Segue em anexo uma sugestão de texto a ser proposto para a sala.

Para a próxima aula, os alunos devem registrar um resumo q trate especificamente dos processos de independência do México.

* Segue texto complementar em anexo.

Produção escrita em grupo (alunos)

45 min

Hora d tratar especificamente a independência mexicana! Os alunos devem estar munidos de seus resumos, e novas proposições serão a eles apresentadas.

Não é necessário, veja bem, qualquer tipo de receio ao focar o processo d independência de apenas um país latino-americano; em optar por não voltar aos demais. Sabemos q o currículo é grande e o calendário variável: estamos quase sempre c a corda no pescoço e devemos fazer cortes. Acredito, particularmente, que qd abordamos uma a uma as conformações de Estados nacionais na América Latina, os alunos passam os olhos por tudo e acabam não assimilando algo que lhes seja significativo - o q contribui p o desconhecimento e a corroboração de estereótipos sobre o latinoamericano.

O professor deve propor à turma a estruturação de um texto coletivo. Primeiro, deve dividir a lousa em 3 partes e no topo de cada uma delas escrever, respetivamente: (1) O vice-reinado da Nova Espanha e suas relações com a Espanha; (2) a disseminação de ideias revolucionárias; (3) a consolidação da ruptura.

O professor deve solicitar que a turma indique palavras-chaves para cada um desses contextos e registrar as que forem pertinentes na lousa, enquanto os alunos copiam em seus cadernos. Ele deve, evidentemente, partir das reflexões propostas na aula anterior, e tb agregar informações que o livro didático não contém. Deve destacar a insatisfação dos indígenas em relação às mudanças que ocorreram na dinâmica de usufruto da terra com as Reformas Bourbonicas e, após a invasão napoleônica na Espanha, com as imposições da Corte de Cádis. Deve destacar o papel controverso de alguns setores da Igreja na circulação de ideias revolucionárias. Deve abordar A. Iturbide como personagem complexo que dialogou a seu modo com as demandas políticas de sua terra e d seu tempo (Segue material d apoio em anexo).

Tais ideias devem ser mencionadas e brevemente registradas tanto na lousa, como nos cadernos).

Na sequência pois o professor deve apagar toda a lousa, e convocar os alunos p q ditem um texto coerente a partir das palavras assinaladas em seus cadernos. Professor e alunos registram as ideias do grupo.

* P casa os alunos levarão uma lista d questionamentos sobre a independência do México e sobre o prato "típico" q estamos estudando. A partir da lista, devem elaborar em duplas um texto q será entregue ao final d todas as atividades. (Segue a lista em anexo.)

Outro tipo de atividade em sala de aula (expressão corporal: dramatização, "peças de teatro", musicalização, danças)

45 min

A boca que questiona e a boca que prova: novas percepções? Os alunos devem se organizar para o dia: decidir se alguns deles ficarão responsáveis pela elaboração do prato, e se haverá contribuição financeira de todos. Ou se cada um produzirá uma ou duas peças de Chili. Também devem estar atentos para o que é necessário para manusear o alimento, manter a sala limpa e em ordem, e provar dentro de um padrão minimamente higiênico. Considero fundamental que os alunos compreendam que cada um contribui para a dinâmica conforme suas possibilidades, e que cabe a eles, e não ao professor, organizarem listas de doações ou de compras, assim como incluir aqueles que, por qualquer motivo, não se sentem disponíveis para colaborar. Tenho realizado muitas experiências semelhantes em minhas aulas e o resultado tem sido muito gratificante: não apenas para o crescimento pedagógico da turma, como também para a melhoria de suas interações sociais.

Proponho que a degustação deva ser feita em roda, com uma toalha posta sobre o chão, e que além de provar os alunos tenham espaço para:

1. Compartilhar com a turma informações sobre com quem contaram para a confecção do prato, o quão difícil foi achar algum ingrediente, se fizeram substituições, se foi difícil a execução, etc.

2. Expressar se aprovam ou não a iguaria, e por que; e quais as emoções lhes despertam o sabor do Chili em Nogada.

3. Retomar os conceitos de independência, nacionalismo e identidade, e solicitar que eles relacionem a experiência da degustação do Chili com desconstrução, construção de versões a respeito da mexicanidade.

O professor também deve mencionar a lista de questões entregue aos alunos, e questioná-los sobre o que pensaram a respeito.

** Em anexo, segue um texto meu sobre a importância pedagógica das degustações em sala de aula, no Ensino Fundamental II.

Referências

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