Quem é a América Latina?

por Fernanda Morais

Plano elaborado para 2 aulas

110 min

Refletir sobre o papel individual na construção de uma imagem coletiva a partir de uma reflexão feita em grupos, com pouca intervenção do professor. Espera-se que os alunos cheguem em uma definição própria e democrática do conceito de América Latina.

CURSO: Narrativas da América: discursos e dinâmicas locais

Objetivos

Os objetivos consistem em desenvolver uma atividade na qual o aluno desenvolva e exerça sua autonomia, mostre que saiba ouvir os colegas e colocar sua opinião de forma clara e respeitosa. Não espera-se que os alunos cheguem a definições acadêmicas mas sim que eles construam esse conceito sobre América Latina a partir das discussões feitas em sala, do conhecimento historiográfico e de sua bagagem cultural própria.

Espera-se também que o aluno entenda, pelo menos em parte, o papel do historiador diante dos documentos históricos. Dessa forma, compreendendo que a história é também uma construção, impossível de ser apartidária. A história deve ser política, e o nosso conhecimento sobre ela permite que sejamos cidadãos mais bem posicionados nas questões políticas atuais.

Requisitos

Para melhor desenvolvimento da atividade é preferível que seja trabalhada com alunos do 2º ou 3º do ensino médio que já tenham tido aulas sobre as populações ameríndias, sobre o processo de colonização e de independência da América.

Avaliação

O aluno será avaliado pela participação na atividade, pela maneira que ouve o colegas e coloca sua posição. Para além disso pode ter uma ou duas questões na prova que aborde o que foi discutido em sala. Sendo que o aluno sentirá que o conceito ao qual eles chegaram foi válido por estar em uma prova oficial. Isso é importante, pois muitos alunos que estão acostumados com aulas expositivas acabam tendo uma postura receptora demais, esquecendo da sua parte na construção do conhecimento.

Lista de atividades

Atividade oral envolvendo a classe (perguntas/respostas/debate)

45 min

O professor deverá dividir os alunos em grupos de 4 ou 5 alunos e cada grupo devera receber duas cartolinas e um canetão e cada integrante seis adesivos de bolinha. Cada grupo deverá discutir o que acredita ser a melhor definição e América Latina, após a discussão cada aluno deverá escrever sua definição na cartolina. Após todos escreverem, os integrantes devem votar da seguinte maneira: - Cada aluno cola duas bolinhas na sua definição favorita e uma bolinha na sua segunda definição favorita; - Após a votação o grupo deverá escrever a definição vencedora na outra cartolina e colar na frente da sala. Nesse momento é interessante que haja uma discussão entre todos os grupos sobre as frases escolhidas e coladas na frente da sala. Eles podem comparar as definições e tentar entender porque se assemelham ou diferem. Após a discussão os alunos votam novamente na melhor definição, seguindo o primeiro esquema. Após a discussão o professor pode analisar a letra da música latinoamérica, da banda Calle 13 e Latinoamerica es un pueblo al sur de Estados Unidos, da banda Los Prisioneros.

Leitura de texto em sala de aula

45 min

Após a discussão da primeira atividade, sugiro que o professor faça uma análise documental junto com os alunos, para que eles tenham acesso a documentos históricos e saibam um pouco sobre a função prática do historiador perante tais registros. Acho que seria interessante estimular a imaginação dos alunos para que eles possam de fato dissecar os documentos com as mais diversas perguntas e hipóteses.

Separei dois documentos, Carta de Jamaica e Nossa América, dentro desses documentos fiz a seleção dos seguintes trechos:

Carta de Jamaica:

1º: " Así, me encuentro en un conflicto

entre el deseo de corresponder á la confianza con que usted me favorese, y el impedimento de satisfacerla, tanto por la falta de documentos y de Libros, cuanto por los limitados conocimientos que poseo de un pais tan inmenso, variado y desconocido como el nuevo mundo." Acho interessante frisar o uso do termo novo mundo e não do termo América Latina.

2º: "el lazo que la unia á la España está cortado; la opinion era toda su fuerza; por ella se estrechaban mutuamente las partes de aquella inmensa Monarquia. Lo que antes las enlazaba ya las divide; mas grande es el odio que nos ha inspirado la penínzula, que el mar que nos separa de élla; menos dificil es unir los dos continentes que reconciliar los espíritus de ambos paices." Sentimento de ódio em relação à Espanha.

3º: "Siempre las almas generosas se interesan en la suerte de un pueblo que se esmera por recobrar los derechos conque el criador y la naturaleza le han dotado". REtomar a influência iluminista.

4º: "Mas nosotros, que apenas concervamos vestigios de lo que en otro tiempo fue, y que por otra parte no somos Yndios ni Europeos, sino una especie media entre los lejitimos propietarios del pais y los usurpadores Españoles; en suma, siendo nosotros

americanos por nacimiento; y nuestros derechos los de Europa, tenemos que disputar éstos á los del pais, y que mantenernos en él contra la opinion de los invasores; así nos hallamos en el caso mas estraordinario y complicado." Reforçar que a construção dessa ideia de quem é a América Latina não é nova.

5º: "Yo deseo mas que otro alguno ver formar en America la mas grande nacion del mundo, menos por su estencion y riquesas, que por su libertad y gloria." Importante para definirmos os princípios de Bolívar.

Leitura de texto em sala de aula

20 min

Do texto de José Martí, separei os seguintes trechos:

1º: "É preciso acabar com esses insetos daninhos, que roem o osso da pátria que os nutre. Se são parisienses ou madrilenhos, que vão para o Prado, com seus lampiões, ou a Tortoni, com seus sorvetes. Estes filhos de marceneiro, que se envergonham de levar

indumentária indígena, da mãe que os criou, e que renegam - velhacos! - a mãe doente e a deixam sozinha no leito da doença! Pois, quem é o homem? o que fica com a mãe, para curar-lhe a doença, ou aquele que a faz trabalhar onde não a vejam, e vive de seu sustento nas terras apodrecidas, rodeado pelos vermes, maldizendo o seio que o embalou e levando a pecha de traidor nas costas da casaca improvisada? Estes filhos de nossa América, que deve se salvar com seus índios e que vai de menos para mais[...]". Acho esse trecho interessante para discutirmos a raiz indígena dos latinos, de trazer a ideia de luta resistente e ativa. De um povo vivo, além de sobrevivente.

2º: " O governo deve nascer do país. O espírito do governo deve ser o do país. A forma de governo deverá concordar com a constituição própria do país. O governo não é mais que o equilíbrio dos elementos naturais do país." Ideia de governo que dialoga com a filosofia iluminista.

3º: "O continente,desarticulado durante três séculos por uma ordem que negava o direito do homem ao exercício de sua razão, entrou, não atendendo ou não escutando os ignorantes que o tinham ajudado a se redimir, num governo que tinha por base a razão; a razão de todos nas coisas de todos, e não a razão universitária de alguns sobre a razão camponesa de outros. O problema da independência não era uma mudança de forma, mas uma mudança de espírito." Acho que de novo reforçar a ideia da razão, problematizando a importação de ideias europeias para o contexto latino e frisar a importância de uma revolução de consciência. Necessária também hoje.

Essa é apenas uma sugestão de trechos selecionados dos documentos, podendo o professor direcionar essa análise. Acredito que seja importante que após uma discussão mais embasada os alunos possam voltar ao conceito que eles construíram para comparações e possíveis alterações.

Referências

PRADO, Maria Ligia & PELLEGRINO, Gabriela. História da América Latina. São Paulo: Contexto,2014.

SOARES, G. P.. "Diálogos culturais latino-americanos na primeira metade do século XX." Projeto História (PUCSP), v. 32, pp. 239-254, 2006.

BRUIT, Héctor H.. "A invenção da América Latina". Revista do Mestrado de História (Universidade Severino Sombra), Univesidade Severino Sombra, v. 5, n.5, 2003.