A resistência dos africanos e afrodescendentes escravizados no Brasil
180 min
Na sequência do conteúdo sobre a escravidão africana no Brasil, esta aula destinada ao segundo ano do Ensino Médio pretende indicar as formas de resistência dos africanos e afrodescendentes escravizados no território brasileiro, dando particular ênfase aos aspectos culturais e religiosos. Envolve análise de imagens, documentos históricos, romances, vídeo e músicas, além da parte expositiva.
CURSO: A Canção Popular no Ensino de História
Objetivos
* Compreender que os africanos e afrodescendentes não aceitaram passivamente a situação imposta pela escravidão, ao contrário do discurso oficial dos portugueses de que eles eram mais mansos do que os indígenas escravizados.
* Reconhecer as diversas formas de resistência à escravidão, desde o rompimento total com essa situação até as negociações dentro do sistema.
* Conhecer as principais características das religiões afro-brasileiras (candomblé e umbanda) de modo a romper com os preconceitos sobre elas.
* Ouvir e analisar músicas com influência e temática afro-brasileiras.
* Perceber as formas dissimuladas e ambíguas de resistência cultural e religiosa afrodescendentes no Brasil.
Requisitos
Para a realização da aula serão necessários: as imagens impressas, um computador com projetor e internet, livro "A viagem proibida: nas trilhas do ouro", textos e músicas impressos, caixas de som ou aparelho sonoro, vídeo e músicas selecionados.
Avaliação
A avaliação ocorre em diversos momentos dessa aula:
- através da participação oral dos alunos nas discussões propostas;
- através das anotações realizadas no caderno e nos textos sobre as discussões e as leituras realizadas;
- através do registro das atividades;
- por fim, através das análises musicais produzidas em dupla e entregues ao professor.
Em todos esses momentos, os critérios de avaliação devem referir-se aos objetivos e verificar a capacidade de expressão escrita e oral dos alunos, bem como sua criticidade.
Lista de atividades
Atividade a ser realizada em casa pelos alunos (lição de casa)
5 min
- Leitura prévia individual dos capítulos 2 e 4 do romance "A viagem proibida: nas trilhas do ouro".
- Além da leitura, os alunos devem anotar no caderno as principais informações sobre os seguintes tópicos: o processo de escravização, a formação e a vivência cotidiana nos quilombos, as relações entre quilombolas e pessoas externas à comunidade, os aspectos religiosos africanos.
Atividade oral envolvendo a classe (perguntas/respostas/debate)
25 min
- Em sala de aula, os alunos dividem-se em trios.
- Cada trio recebe uma imagem retratando cenas do processo de escravização, dos locais e instrumentos de punição ou do tratamento imposto pelos senhores aos escravos africanos ou afrodescendentes. Há diversas aquarelas e pinturas de Rugendas e Debret retratando esse cotidiano violento que podem ser retiradas da internet ou dos livros didáticos, mas abaixo há 6 sugestões (5 pinturas de Rugendas e uma foto).
- Cada trio tem 5 minutos para analisar sua imagem anotando no caderno os principais pontos (considerando que se trata de uma sequência de aulas sobre a escravidão, a ideia dessa atividade é relembrar a situação cotidiana dos escravizados).
- Após esse tempo, os trios socializam os principais pontos de cada imagem, enquanto elas são projetadas para toda a turma acompanhar (1 a 2 minutos por grupo).
- Ao final, o professor pergunta aos alunos como eles reagiriam aquele cotidiano.
Exposição Oral por parte do professor
40 min
Utilizando um projetor e relacionando o conteúdo às falas dos alunos, o professor esclarece que embora a violência legal e sistematicamente utilizada pelos senhores como meio de submeter os escravizados gerasse medo, também resultava em revolta e outras formas de resistência. Os africanos e afrodescendentes nunca aceitaram pacificamente essas condições opressivas. Eles reagiram à escravidão na medida de suas possibilidades, ora promovendo uma luta aberta, ora se adaptando e negociando certas condições. As principais formas de resistência à escravidão no Brasil foram:
• Violência contra si mesmos - provocavam abortos, adoeciam ou suicidavam-se;
• Fugas individuais ou coletivas - constantemente tentavam fugir e escapar do sistema escravista (analisar os anúncios de fuga nos jornais). As fugas coletivas resultaram na formação de quilombos. Os quilombos eram comunidades erguidas nas matas e áreas de difícil acesso para oferecer segurança e meios de sobrevivência. Foram criados por escravos fugidos, mas podiam abrigar também indígenas, gente perseguida, aventureiros e soldados desertores. A comunidade quilombola desenvolvia uma série de atividades: agricultura, caça, pesca, criação de animais, artesanato, mineração e comércio, pois estabelecia ligações “clandestinas” com escravos de ganho, libertos e homens livres, principalmente comerciantes. (Discutir com os alunos o cotidiano dos quilombos a partir da leitura prévia dos capítulos de "A viagem proibida: nas trilhas do ouro")
• Confrontação, boicote e sabotagem - agiam com violência contra feitores e senhores, boicotavam o trabalho, quebravam ferramentas e maquinário, incendiavam plantações (Com um computador com acesso à internet, projetar o passo a passo do caso 1 - Rebeldia no Engenho Santana do site Detetives do Passado e promover uma leitura/análise coletiva desses documentos históricos compilados pela Unirio);
• Negociações - cotidianamente, faziam acordos de cumprir exigências em troca de um melhor padrão de sobrevivência (alimentos, roupas, saúde, moradia) e da conquista de espaço para a expressão de sua cultura, organização de festas, entre outros. A manutenção de seus costumes, sua cultura e seus rituais religiosos às escondidas, de modo dissimulado, também foi um importante elemento de resistência que acabou influenciando a cultura brasileira e provocando hibridismo cultural e sincretismo religioso.
Leitura de texto em sala de aula
20 min
- Imprimir o trecho de "O Livro das Religiões" sobre as religiões afro-brasileiras;
- Dividir a turma em duas metades, sendo que cada metade deverá ler sobre uma das religiões: candomblé ou umbanda;
- Individualmente, cada aluno sublinha as partes mais importantes e anota os principais tópicos no próprio texto ou no caderno.
Atividade oral envolvendo a classe (perguntas/respostas/debate)
15 min
- Discutir com os alunos as principais características do candomblé e da umbanda. Podem servir de perguntas norteadoras para a discussão: Quem são os orixás? Qual o papel dos orixás nessas duas religiões? Qual é a origem do candomblé? Qual é a o origem da umbanda? Quais são as principais características do candomblé? Quais são as principais características da umbanda? Quais as semelhanças entre candomblé e cristianismo? Quais as semelhanças entre umbanda e cristianismo? Quais as diferenças entre candomblé e cristianismo? Quais as diferenças entre umbanda e cristianismo? Quais os principais preconceitos que existem sobre essas religiões? Que práticas dessas religiões estão difundidas na cultura brasileira em geral?
Vídeo/Música/Imagem
20 min
- Questionar os alunos sobre quais ritmos eles reconhecem como de influência africana e anotar no quadro.
- Apresentar o vídeo "Canções escravas e racismo nas Américas" sobre os diversos ritmos musicais que os africanos e afrodescendentes produziram ao longo da história americana e brasileira.
- Comparar as influências africanas citadas pelos alunos e as que aparecem no vídeo.
- Discutir as produções musicais africanas e os preconceitos que sofreram e ainda sofrem.
- Explicar sobre a necessidade de dissimular suas tradições religiosas e culturais para conseguir negociar sua aceitação por parte do sistema escravista e da sociedade colonial: através do sincretismo religioso que incluía elementos africanos nas festas do catolicismo popular (congadas, reinados), que transformava a capoeira em dança, que tornava ambíguos batuques de candomblé (proibidos) para passar como diversão... (Ampliar a discussão a partir do texto "Os fios da trama: grandes temas da música popular tradicional brasileira". Dependendo da região do país é possível acrescentar os elementos locais)
Vídeo/Música/Imagem
35 min
- Ouvir as duas músicas selecionadas: "Muito obrigado axé" e "As Ayabás";
- Discutir com toda a turma os ritmos, os instrumentos e a construção musical, comparando com ritmos e músicas conhecidas (axé, samba, batuque, pop...);
- Situar as músicas em seu contexto de produção, sendo que "Muito obrigada axé" composta por Carlinhos Brown e gravada por Ivete Sangalo e Maria Bethânia em 2010, mistura o ijexá, música tradicional dos terreiros, com a MPB e o pop. A música teve boa aceitação do público e também de críticos musicais, mas causou polêmica pela apropriação e pelo uso comercial de elementos tradicionais afrodescendentes por pessoas não necessariamente negras. Aqui é possível retomar o vídeo e aprofundar essa discussão. Por sua vez, "As Ayabás" composta por Gilberto Gil e Caetano Veloso e interpretada por Maria Bethânia, tem o som dos atabaques mais marcado, com variações rítmicas para cada uma das Ayabás (orixás mães e rainhas): Iansã, Obá, Ewa e Oxum. Gravada em 1976, no álbum Pássaro Proibido, essa música circulou também com o show Doces Bárbaros e através do álbum duplo e do documentário sobre o show. A turnê Doces Bárbaros reuniu novamente Bethânia, Gil, Caetano e Gal Costa para comemorar 10 anos de suas trajetórias musicais marcadas pela MPB, pelo tropicalismo e pelas performances, com traços semelhantes, como a constante emergência da tradição afrodescendente do candomblé, como se vê nessa música.
- Ouvir novamente, agora com as letras em mãos (10 min);
- Questionar os alunos sobre as principais temáticas das letras e provocar relações entre as letras e o conteúdo estudado - as questões religiosas, as referências às etnias africanas, os sincretismos...
Produção escrita em grupo (alunos)
20 min
- Em duplas, os alunos devem produzir um breve texto com as análises comparadas das músicas, destacando os elementos culturais e religiosos africanos e afrodescendentes presentes, fazendo referência nessa análise aos elementos estudados ao longo da aula.
Referências
COSTA, Maria de Fátima & DIENER, Pablo. A América de Rugendas: obras e documentos. São Paulo: Estação Liberdade: Kosmos, 1999.
DEL PRIORE, Mary. A viagem proibida: nas trilhas do ouro. São Paulo: Planeta Jovem, 2013.
DICIONÁRIO Cravo Albin da música popular brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Cultural Cravo Albin, 2002. Disponível em: http://dicionariompb.com.br/ Acesso em: 27 jan. 2020.
FAUSTO, Bóris. História do Brasil. 14. ed. atual. e ampl. São Paulo: Edusp, 2013. (Didática, 1).
GAARDER, Jostein; HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry. O livro das religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
MONTEIRO, Marianna; DIAS, Paulo. Os fios da trama: grandes temas da música popular tradicional brasileira. Estudos Avançados, v. 24, n. 69, p. 349-371, 2010.
RUGENDAS, Johann Moritz. Viagem pitoresca através do Brasil. Trad. Sérgio Milliet. São Paulo: Martins / Edusp, 1972.
SCHWARCZ, Lilia; GOMES, Flávio (orgs.). Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.