As representações de masculinidades na canção "Catimbau" (1958)

por Ulisses Nogueira

Plano elaborado para 1 aula

50 min

Este plano de aula se destina alunas/os do Ensino Médio, podendo ser desenvolvido como tema transversal. A proposta de atividade tem a perspectiva de analisar criticamente as representações de masculinidades. As músicas sertanejas de raiz produzidas na década de 1950 oferecem a oportunidade de discutir as relações de gênero, favorecendo a reflexão acerca da historicidade dessas representações.

CURSO: A Canção Popular no Ensino de História

Objetivos

Compreender o conceito de masculinidade tóxica.

Entender a masculinidade enquanto uma construção social e cultural.

Identificar a canção enquanto fonte histórica, produto de determinado tempo e espaço.

Refletir sobre a experiência sonora (instrumental e vocal) e sua relação com o texto da canção.

Aplicar o conceito de masculinidade na interpretação do discurso cancioneiro.

Refletir sobre si e as experiências do cotidiano permeada por relações gênero desiguais e injustas.

Requisitos

Carteiras e cadeiras dispostas em semicírculo, impresso contendo o fragmento do texto "Você sabe o que é masculinidade tóxica?", data show, notebook e caixa de som.

Avaliação

A avaliação deve ocorrer através da observação direta durante o debate para aferir o respeito, comprometimento, interesse, compreensão, interpretação e criticidade. Depois, somar-se a entrega do texto da paródia, onde deve ser analisada a capacidade crítica e criativa de empregar a caracterização do conceito de masculinidade tóxica em adjetivos e no enredo da narrativa. A reescrita da história deve ser em favor de expectativas democráticas das relações de gênero e crítica capaz de reconhecer criticamente os custos da exibição de masculinidades tóxicas.

Lista de atividades

Exposição Oral por parte do professor

10 min

No início da aula o/a professor/a deve registrar na lousa o tema; os objetivos; o título, data de produção e autoria/interpretação do documento histórico/objeto de pesquisa, no caso, a canção “Catimbau”. Depois, oralmente apresentar aos/s alunos/as a proposta da aula deixando claro a relação entre tema, objetivos e o recurso didático (canção). Cabe, neste momento, citar que o conceito de masculinidade será discutido, aproveitar a leitura dos objetivos para justificar a relevância do tema na vida prática dos/as alunos/as. E que a escolha daquele recurso didático permite discutir o conceito de masculinidade em uma perspectiva histórica, relacionando passado e presente.

A leitura da matéria “Como o conceito tradicional de masculinidade afeta os meninos?” no site da Nova Escola permite ao/a professor/a exemplificar as consequências nocivas do exercício da masculinidade tradicional ou tóxica utilizando o cotidiano dos/as educandos/as. Inclusive, seus efeitos na relação com as mulheres e a pessoas LGBTQI+. Desta forma, a proposta da aula ganha sentido e estimula a atenção.

Leitura de texto em sala de aula

10 min

Na sequência o/a professor/a deve entregar impresso um fragmento de texto e escolher um/a aluno/a para fazer a leitura. O texto foi retirado da internet.

“Masculinidade tóxica é uma descrição estreita e repressiva da masculinidade que a designa como definida por violência, sexo, status e agressão, é o ideal cultural da masculinidade, onde a força é tudo, enquanto as emoções são uma fraqueza; sexo e brutalidade são padrões pelos quais os homens são avaliados, enquanto traços supostamente ‘femininos’ – que podem variar de vulnerabilidade emocional a simplesmente não serem hipersexuais – são os meios pelos quais seu status como ‘homem’ pode ser removido. Alguns dos efeitos da masculinidade tóxica estão a supressão de sentimentos, encorajamento da violência, falta de incentivo em procurar ajuda, até coisas ainda mais graves, como perpetuação do encorajamento do estupro, homofobia, misoginia e racismo (CONFORT, 2017)”

Após a leitura o/a professor/a deve desnaturalizar o conceito de masculinidade, demonstrando sua condição histórica, social e cultural. Também, demonstrar que existem outras masculinidades, não nocivas ao sujeito que a exerce e fecunda em superar as injustiças nas relações de gênero. Como, por exemplo, ser honesto, solidário, humilde e carinhoso. Obviamente, esses valores não excluem a necessidade de todos/as os exercerem.

Depois, levantar questões para que os/as alunos/as participam oralmente: O que caracteriza a masculinidade tóxica? Em suas experiências, quando foram alvos da masculinidade tóxica? A necessidade de dialogar com o cotidiano é para demonstrar reiteradamente que o saber escolar faz sentido na vida prática. Mesmo quando ocorre uma discussão conceitual, essa perpassa pelo processo de caracterização e exemplificação do conceito. O/a professor/a deve estar atento as manifestações dos/as alunos/as para aproveitar possíveis falas que reverberam as masculinidades tóxicas e intervir demonstrando o caráter histórico, social e cultural do conceito.

Por fim, para introduzir o documento histórico/objeto de pesquisa no contexto da aula, explicar que representações de masculinidades circulam na sociedade, especialmente nos meios de comunicação: novelas, séries, cinema, games e músicas oferecem um repertório para discussão crítica acerca dessas representações.

Vídeo/Música/Imagem

10 min

Nessa etapa propomos a audição da canção "Catimbau", é uma composição de Carreirinho e Teddy Vieira, interpretada em 1958 pela dupla Tião Carreiro e Pardinho. Para historicizar a canção é necessário que o/a professor/a conheça brevemente a biografia desses sujeitos históricos, para tanto é indicado o site “recanto caipira”.

Para executar a escuta e leitura da canção é necessário utilizar um notebook, data show e caixa de som. Caso a escola não tenha acesso a internet, baixar previamente os arquivos com a canção em mp3 (arquivo disponibilizado no link) e a letra em arquivo de texto. Assim, o/a professor/a poderá oferecer a escuta sem e com a letra. A intenção é que a escuta sem a letra esteja interessada em estimular a experiência estética da escuta, para depois passar para a preocupação com a letra da música.

Portanto, a audição deve ser dividida em dois momentos, na primeira orientar para que os alunos e alunas darem atenção a experiência sonora, isso significa chamar a atenção para a melodia, identificarem o instrumento e a entonação das vozes. É um exercício estético, eles/as não precisam registrar nada, mas escutarem com atenção.

A segunda audição deve estar preocupada em compreender o enredo da narrativa, o/a professor/a deve orientar para que registrem as palavras que não conhecem.

Atividade oral envolvendo a classe (perguntas/respostas/debate)

15 min

Nessa etapa haverá um debate em busca de aplicar o conceito de masculinidade tóxica para o recurso didático escolhido, a canção. Para tanto, sendo uma aula de história é importante evitar o anacronismo, portanto, o/a professor/a deve apresentar a canção primeiramente como uma documento histórico, deixando claro que aquele discurso tem local e data, ou seja, é um produto cultural que circulava principalmente na região Centro-sul do país, e o público da década de 1950 acessava a música pelo rádio, discos ou shows. Também, indicar autoria/interpretação, com exceção de Tião Carreiro (Montes Claros - MG), Carreirinho, Teddy Veira e Pardinho nasceram no interior do Estado de São Paulo e migraram para a capital paulista. Eram sujeitos, que semelhante a muitos outros migravam do campo para a cidade em busca de melhores condições de vida e trabalho.

Na sequência o/a professor/a deve levantar questões para a discussão do objeto de pesquisa em sala de aula. Primeiramente chamando a atenção da experiência sonora: qual o ritmo da melodia? Qual instrumento acompanha a letra? Quais os sentidos e significados da interpretação vocal? E, por fim, como esses elementos (ritmo e interpretação vocal) se relacionam? Espera-se que reconheçam a viola caipira (podem classificar como violão que é um instrumento mais próximo do repertório deles/as) que acompanha a narrativa da história. A tessitura dessa canção favorece a passionalização, pois o instrumento suspende o toque em vários momentos para dar destaque a interpretação das vozes que falam mais do que cantam. Desta forma, favorece a construção de uma tensão no ouvinte diante da relação entre sujeito/objeto, no caso, Catimbau em busca do amor de Rosinha. O recortado da viola determina divisões na narrativa, que acompanhada pela tonalidade das vozes quando ampliam as vogais dão um som grave que demarca a tensão dramática.

No segundo momento a análise da letra. Deve começar identificando os adjetivos empregados no texto e sua relação com as expectativas de masculinidades, o mesmo deve ser feito sobre a feminilidade. Essa análise permite compreender o aspecto relacional do gênero, pois a oposição ao outro (feminino/masculino) também constrói os ideais. O desfecho da narrativa é o momento de compreender os custos das masculinidades, algo que tem um grande potencial para se relacionar com as experiência dos meninos e meninas.


Atividade a ser realizada em casa pelos alunos (lição de casa)

5 min

Por fim, como avaliação propor um trabalho em grupo para realizar em casa. A atividade consiste em produzir uma paródia coletivamente. A paródia, nesse caso, pode ser definida como um texto musical que imita outra obra com objetivo jocoso ou satírico, um arremedo ou resposta. Além da letra devem produzir a melodia, como provavelmente os grupos podem ser compostos por integrantes que não tem familiaridade com a produção de uma partitura, sugerimos procurar ajuda. Pode ser uma escola de música particular ou pública, até mesmo alguma pessoa entusiasta, que tenha conhecimento técnico para ajudar. Nessa proposta, a melodia tem que estabelecer relação com o texto da canção. Isso significa que ritmo, instrumento/s e interpretação vocal e/ou corporal deve fazer sentido dentro do texto, com objetivo de produzir sensações nos/as ouvintes. Já que o produto dessa atividade tem sonoridade o grupo deve gravar em áudio e/ou vídeo, mas antes entregar ao/a professor/a o texto da canção para avaliação prévia. O objeto é verificar o teor crítico da narrativa, sua capacidade de ironizar sem reforçar o discurso da masculinidade tóxica. Depois da correção, autorizar a gravação.


Referências

CONFORT, Maria. Você sabe o que é masculinidade tóxica? Disponível em:< https://www.geledes.org.br/voce-sabe-o-que-e-masculinidade-toxica/>. Acesso em: 05 dez. 2019.

CALÇADE, Paula; OLIVEIRA, Tory. Como o conceito tradicional de masculinidade afeta os meninos? Disponível em:< https://novaescola.org.br/conteudo/17042/como-o-conceito-tradicional-de-masculinidade-afeta-os-meninos>. Acesso em: 05 dez. 2019.

CONNELL, Robert W.; MESSERSCHMIDT, James W. Masculinidade hegemônica: repensando o conceito. Rev. Estud. Fem., v. 21, n. 1, p. 241-282. 2013.

PERIPATO, Sandra Cristina. Recanto caipira. Disponível em: < http://recantocaipira.com.br/index.html>. Acesso em: 05 dez. 2019.

WOLFF, Cristina Scheibe; SALDANHA, Rafael Araujo. Gênero, sexo, sexualidades - Categorias do debate contemporâneo. Retratos da Escola, v. 9, n. 16, 2015, p. 35-36.