CANÇÃO COMO RESISTÊNCIA: DO AI-5 AOS DIA DE HOJE

por Carlos Filgueiras

Plano elaborado para 2 aulas

110 min

A aula, inserida dentro do assunto de Ditadura civil-militar no Brasil, pretende apresentar a resistência cultural ao regime através da música. Para tanto, foram selecionadas três canções. Como avaliação, espera-se que a análise e o debate levantados sobre essas canções ofereça subsídios para que o estudante faça uma análise do atual momento político no Brasil.

CURSO: A Canção Popular no Ensino de História

Objetivos

- identificar, conceitualmente, se o que houve em 1964 foi um golpe de Estado;

- apresentar a censura como um recurso do governo civil-militar de 1964 a 1985;

- entender a produção cultural como uma das formas de resistência ao contexto da ditadura civil-militar;

- utilizar as experiências do passado para ler melhor o presente

Requisitos

Duas aulas de 50 minutos geminadas para o 3º ano do Ensino Médio. Houve a introdução ao assunto na aula anterior, com os temas: golpe, conceito de ditadura, os quatro primeiros AI's e a resistência. É esperado que os estudantes tenham realizado o fichamento de um texto do livro "A Ditadura Envergonhada", (bibliografia). A sala deve ser organizada em meia lua e deve contar com um datashow.

Avaliação

- fichamento do texto "A Missa Negra", contida no livro de Elio Gaspari (referência no momento 2 do plano);

- debates em sala sobre o texto acima e sobre as impressões sobre as canções apresentadas;

- duas opções de produções textuais que o estudante deve escolher livremente:

1. uma carta, informal, que o estudante, cujo eu lírico seja um artista dos anos 70 que sofreu censura, apresente a sua situação dentro do seu contexto político;

2. Após a leitura das reportagens (anexadas no momento 7 deste plano), indicaremos que o aluno assista o clipe da música O Real Resiste, de Arnaldo Antunes (também em anexo) e produza um texto problematizando e justificando se ela pode ser considerada uma canção de protesto assim como foram as canções vista na aula.

Lista de atividades

Exposição Oral por parte do professor

15 min

Rever os conceitos de "revolução", "reforma" e "golpe de Estado". A importância desta apresentação teórica está no fato de haver uma confusão, intensificada atualmente, do que realmente houve em 1964. Por isso faz-se necessário realizar uma análise técnica dos conceitos citados a fim oferecer subsídios para que o estudante analise o que aconteceu à luz dos teóricos da História, Filosofia e da Ciência Política. A discussão, no entanto, deve adequar-se a uma turma de 3º ano do Ensino Médio. Por isso, adotamos como base teórica o conceito de "revolução" que Hannah Arendt expõe no livro "Sobre a Revolução". Apesar da densidade da obra, no capítulo inicial a autora caracteriza os aspectos de uma revolução ajudando a identificar, por conseguinte, os movimentos que não são revolucionários, mesmo quando levam esse nome. A transposição didática ajudará os estudantes a se situarem conceitualmente. A introdução do livro "O golpe de 64 e a ditadura militar", de Júlio José Chiavenato, é a base teórica para analisar e comparar os conceitos de "revolução", "reforma" e "golpe de Estado".


Atividade oral envolvendo a classe (perguntas/respostas/debate)

20 min

Como pré-requisito a essa atividade, os alunos devem ter realizado o fichamento do capítulo "A missa negra", do livro "A ditadura envergonhada: as ilusões armadas", de Elio Gaspari. O capítulo trata dos bastidores da reunião que instituiu o Ato Institucional número 5. A sugestão é que os estudantes sejam provocados pelo professor a expressar, de forma espontânea, as conclusões e dúvidas sobre a leitura. Após a coordenação das exposições, o professor deverá propor o debate sobre se o AI 5 foi constitucional ou não, segundo o texto.

Obs: não foi possível anexar o texto devido à limitação do tamanho. Segue a referência bibliográfica:

GASPARI, Elio. A MISSA NEGRA. In: A Ditadura Envergonhada - as ilusões armadas. RJ: Intrínseca: 2014, p. 335-346.


Vídeo/Música/Imagem

10 min

Exibir o depoimento de Eny Moreira, disponível no youtube e anexado ao plano, sobre a morte de Aurora Maria Nascimento Furtado. O professor deve justificar que, embora forte, o vídeo é necessário para que os estudantes entendam que houve um efeito prático imediato após o AI-5, discutido no momento anterior. Entendendo que houve esse efeito, também ficará mais claro para os estudantes perceber as canções que serão escutadas mais à frente como uma forma de resistência. Como sugestão, o professor deve indicar uma visita ao site do Memorial da Resistência de São Paulo (link anexo).

Vídeo/Música/Imagem

20 min

O professor deve explicar brevemente que a música foi um importante recurso utilizado para resistir ao regime. A primeira canção a ser apreciada é "Divino Maravilhoso", de Caetano Veloso e Gilberto Gil, interpretada por Gal Costa no disco homônimo de 1969. No caso, o lançamento do disco (março) é anterior ao AI-5 (dezembro), mas apresenta o clima tenso que já figurava. A sugestão é que a primeira escuta seja sem a letra, para que o estudante fique livre para perceber o que mais lhe chama atenção. Por isso sugerimos a interpretação original só com a capa do disco. Após a primeira exposição, o professor deve questionar rapidamente o que chamou a atenção dos estudantes. Após as observações, outro link com a letra em outra versão, também interpretada por Gal Costa, deve ser exibido e outra rodada de impressões deve acontecer. Caso não seja citado, o professor deve enfatizar que a música é dirigida aos jovens e que estes foram uma importante base de resistência ao regime (o papel dos CPC's da UNE deve ser mencionado). Outro ponto que deve ser levantado é o trocadilho entre o vocábulo "Atenção", que inicia todas as frases das estrofes da letra, com a expressão "há tensão".

Vídeo/Música/Imagem

20 min

A segunda canção a ser exibida aos estudantes é "Acorda Amor", lançada no álbum Sinal Fechado, de Chico Buarque, em 1974. Desta feita a abordagem deve avançar em relação à canção anterior no sentido de que após o AI-5 não havia só a ameaça, como em "Divino Maravilhoso", mas a censura e a perseguição já eram uma realidade. Mais uma vez a sugestão é que a primeira exibição seja o link com a música e a capa do disco, e só depois o link da música acompanhada da letra. Por ter uma letra tão direta, o professor deve orientar o debate para a questão da censura. Uma das provocações que o professor deve fazer é sobre a autoria da canção, atribuída popularmente a Chico Buarque, mas com Julinho de Ataíde nos créditos. Uma ótima oportunidade para tratar das estratégias de resistência dos compositores. Como indicação de livro sobre o tema aos estudantes, sugerimos "Eu não sou cachorro não", de Paulo Cesar Araújo.

Vídeo/Música/Imagem

20 min

A última canção exibida na aula é "Canção da despedida", de Geraldo Azevedo e Geraldo Vandré. A letra da canção abre espaço para o professor conduzir um debate sobre o exílio, já que a própria canção começou a ser composta antes do AI-5 e teve de ser terminada às escondidas, com Geraldo Vandré já sendo procurado pela polícia. Vale ressaltar que a canção foi censurada e só foi lançada em 1983 por Elba Ramalho, no disco Coração Brasileiro. Sugerimos a exibição do link (em anexo) com a primeira gravação de Geraldo Azevedo, no disco ao vivo Á luz do solo, em 1985, que conta com um depoimento do artista sobre a censura que a canção sofreu durante anos.

Atividade a ser realizada em casa pelos alunos (lição de casa)

5 min

A conclusão da aula ficará em aberto e será fechada com a proposição de uma atividade para ser realizada em casa e apresentada na próxima aula. Como registrado no resumo, tanto a discussão teórica dos primeiros momentos como a apreciação e debate sobre as canções tem por objetivo oferecer uma base teórica e conceitual, apoiadas em historiadores e produções artísticas consagradas, para que ele possa reconhecer porquê o ambiente criado após o golpe e, mais especificamente para essa aula, após a instituição do AI-5, é definido pela historiografia como um período ditatorial e autoritário. A avaliação de aprendizagem busca reconhecer se os debates e conclusões proporcionados pelas canções oferecem subsídios para leituras de outros contextos. Por isso, indicaremos a leitura de várias reportagens de veículos da grande mídia sobre o tratamento que a cultura vem tendo atualmente, a saber: a retirada dos cartazes de filmes nacionais do site da Ancine, a tentativa de retirada de atividades culturais da listas do Mei (revista após protestos da classe artística), críticas sofridas pela atriz Fernanda Montenegro pelo presidente da Funarte, a reunião de artistas e trabalhadores do setor audiovisual no STF contra medidas que chamam de "censura" pelo governo e a possível censura que a música "O real resiste", de Arnaldo Antunes sofrera no Canal Brasil. As produções textuais avaliativas estão descritas no campos "avaliação" deste plano.

Referências

GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada - as ilusões armadas. RJ: Intrínseca: 2014.

CHIAVENATO, Júlio José. O Golpe de 64 e a Ditadura Militar. SP: Ed. Moderna, 1994.

ARENDT, Hannah. Sobre a Revolução. SP: Cia. das Letras, 2011.

ARAÚJO, Paulo Cesar de. Eu Não Sou Cachorro, Não: música popular cafona e ditadura militar. RJ: Record, 2010.

REIMÃO, Sandra. Repressão e resistência: censura a livros na ditadura militar. SP: Edusp, 2011.

NAPOLITANO, Marcos. A MPB sob suspeita:a censura musical vista pela ótica dos serviços de vigilância (1968-1981). In: Revista Brasileira de História,vol. 24, n. 47, SP: 2004.