"Eles fizeram o pior...": O fim da Ditadura Militar no Brasil e a percepção de seu legado

A aula será iniciada com a leitura da letra da canção "Simca Chambord", de autoria de Marcelo Nova e interpretada pela banda Camisa de Vênus. A canção "Simca Chambord". Gravada em 1986, faz referência a um modelo de carro famoso nas décadas de 1950 e 1960.

Nesse momento da aula, pretende-se que os alunos interpretem a letra da canção, ressaltando a intenção comunicativa do autor, o contexto histórico referido na canção, e a visão do autor sobre este.

Há dois momentos distintos, um alegre e outro triste, que podem ser captados pela leitura da letra da canção. No primeiro momento, percebe-se a concretização de um desejo de consumo simbolizado pela aquisição do modelo que dá nome à canção. A crença em um "futuro melhor", que seria garantido pelo presidente João Goulart, desaparece e a música muda a sua perspectiva, agora de uma revolta direcionada àqueles que "fizeram o pior". O Simca Chambord, cuja produção foi descontinuada em 1967, dá espaço nas ruas para os "jipes e tanques" que mudaram os planos dos brasileiros.

Nesse sentido, os alunos devem relacionar a letra da canção com a História do Brasil entre as décadas de 1950 e 1980, principalmente, do ponto de vista da política e da economia e seus reflexos na vida material da população. Quem teria provocado a mudança referida na canção? Quais acontecimentos históricos podem ser citados? Essas são as questões norteadoras que ligam essa parte da aula com a próxima.

Nesse segundo momento, as respostas dos alunos aos questionamentos colocados ao final da primeira parte da aula serão utilizados para fomentar por parte dos alunos uma reflexão sobre o conceito de memória.

Segundo Maurice Halbwachs, o indivíduo "participa" de duas espécies de memória: uma definida como individual (autobiográfica) e outra coletiva (histórica). Esses dois tipos de memória penetram com frequência. A primeira pode, "para confirmar algumas de suas lembranças, para precisá-las e mesmo para cobrir algumas de suas lacunas, apoiar-se sobre a memória coletiva, deslocar-se nela, confundir-se momentaneamente com ela". Já a segunda, "envolve as memórias individuais, mas não se confunde", pois os seus limites são mais amplos, a depender de diferentes contextos territoriais e históricos (HALBWACHS, 2006).

Tendo em vista essa diferenciação, como podemos relacionar as memórias individuais e coletivas presentes na canção analisada?

O vídeoclipe da canção fornece elementos imagéticos que podem contribuir para essa reflexão.

Nesse momento, tendo como base a análise inicial e o conceitos propostos, os alunos deverão analisar a performance contida no clipe. Os alunos farão a primeira escuta da canção. A canção segue um padrão alegre, com alternâncias que correspondem a momentos políticos de distensão social.

Essa percepção é ampliada pelas imagens de manifestações políticas, cenas de repressão policial a movimentos sociais, professores e tortura ao protagonista da peça audiovisual. Além disso, as mudanças no volume e entonação da voz recriam um ambiente de liberdade restrita e apreensão pelo futuro, elementos que não estavam presentes com a mesma força na leitura da letra.

Nesse sentido, percebe-se que esse momento de mudança corresponde ao golpe de 1964, que depôs o presidente João Goulart e deu início à ditadura militar, que durou até 1985.

Espera-se que o aluno correlacione conteúdos, conceitos e canção, entendendo-a como uma visão possível, uma memória o sobre o legado econômico do regime militar, de frustração de uma juventude que se viu tolhida de sua liberdade política e de um símbolo de ascensão social.

Os alunos farão, com auxílio do professor, um resumo dos conteúdos trabalhados em sala de aula em forma de diário, que compõe parte da avaliação.